Marília Souza tinha um futuro brilhante no esporte. Com todas as características que pedem uma boa jogadora de basquete, ela chamava a atenção nas categorias de base dos clubes por onde passou em João Pessoa, na Paraíba. Chegando até mesmo à seleção estadual.

Apesar do sucesso dentro de quadra, não deixava de se preocupar com a educação e, assim, aliava o esporte aos estudos, que eram custeados justamente por bolsas destinadas às atletas. Mas, o destino quis que a carreira de Marília sofresse uma reviravolta. Uma lesão fez com que precisasse se aposentar do basquete aos 20 anos. A garra, a competitividade e a vontade de vencer, no entanto, não chegaram ao fim, sendo apenas redirecionadas para outro “local de jogo”.

A jovem, mesmo enquanto jogava, já gostava bastante de tecnologia. Com muito esforço, a família juntou dinheiro e, aos 15 anos, deu o primeiro computador à menina. Diante dessa outra paixão que vinha desde a adolescência, tomou uma decisão ousada: deixar o Nordeste rumo ao Rio de Janeiro.

As oportunidades no Rio de Janeiro

Quando chegou à Cidade Maravilhosa, com 23 anos, percebeu que as oportunidades eram mais limitadas do que imaginava. Precisou vender doces e salgados para se sustentar, até conseguir um emprego com televendas. Era assim que conseguia pagar o aluguel de uma pequena quitinete na comunidade do Piscinão de Ramos, na Zona Norte do Rio.

Embora levando uma vida digna, Marília sabia que podia alçar voos mais altos. Dessa forma, não teve dúvidas ao pedir o computador emprestado para a namorada e começar a estudar informática por conta própria, por meio de vídeos do professor Gustavo Guanabara na internet. Foi como conheceu, em 2019, o Recode Pro, um projeto gratuito da Recode que valoriza as diversidades e forma novos programadores full stack, ajudando na entrada ao mercado de trabalho de tecnologia: “Foi a melhor experiência da minha vida. Finalmente, me encontrei fazendo parte do programa e estudando o que eu tanto sonhava”, conta a jovem.

Tudo corria bem. Parecia que aquele “jogo” terminaria com uma “cesta de três pontos”. Entretanto, os imprevistos voltaram a aprontar e, com a situação financeira se complicando, a ex-atleta precisou interromper mais um sonho e largar a formação para se dedicar a um emprego melhor. “Foi uma escolha muito difícil, mas necessária para o momento que eu estava passando”, relembra.

O reencontro com o Recode Pro

Marília já participou de hackathons da Recode em projetos de tecnologia

Quem pensa que aquela partida já havia chegado ao fim, está totalmente enganado. O jogo, na verdade, apenas foi para a “prorrogação”. A resiliência típica de uma esportista mostrou que os sonhos podem até ser adiados, mas jamais abandonados. Ela continuou estudando por conta própria e, dois anos mais tarde, viu nas redes sociais da Recode que uma nova edição do projeto iria começar. Não teve dúvidas: fez a inscrição mais uma vez e recomeçou todo o processo seletivo a que já havia sido submetida no passado.

Marília, então, não só foi aprovada como conseguiu conciliar o emprego com as aulas e atividades, que agora aconteciam de maneira remota. Ela aprendeu as habilidades técnicas que são exigidas de uma desenvolvedora full stack júnior e aprimorou ainda mais as socioemocionais, tão importantes para a carreira.

A formação também contou com a participação de profissionais de tecnologia, empreendedores sociais e artistas, que participavam de conversas frequentes para trocar experiências com os jovens. Um deles foi Alok, DJ e produtor musical que apoia o Recode Pro junto com o Instituto Alok. Para Marília, o encontro foi inspirador: “Foi muito importante para mim ver um artista tão prestigiado como ele tendo empatia com tantas pessoas que, assim como eu, não tinham oportunidades. Tenho muito orgulho em fazer parte dessa história”, comemora.

Nos dias atuais…

Atualmente com 28 anos, a jovem mora com a esposa no bairro de Bonsucesso, na Zona Norte do Rio. Já formada como programadora full stack júnior no Recode Pro, ela trabalha no setor de relacionamento com o cliente de uma seguradora. Mesmo ainda não estando na área de tecnologia, ela tem a certeza de que esse sonho é só mais um que será realizado em breve: “Quero seguir na programação full stack. Anseio pelo dia em que vou colocar em prática tudo o que aprendi na Recode”, afirma.

As mesmas mãos que usava para fazer cestas, quando jogava basquete em João Pessoa, agora podem programar, tanto códigos, sites e aplicativos, como o próprio destino de Marília Souza. Esse jogo, a jovem já venceu. Mesmo sabendo que ainda existe todo um “campeonato” pela frente, a história de garra, superação, coragem e talento da paraibana mostra que uma nova conquista é apenas uma questão de tempo.